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NotíciasFormação de Pilotos: temos esse direito?07/05/2019

Qualquer profissão requer bons profissionais. Não nascem prontos...

A boa formação demanda tempo, estudo, evolução e oportunidades. Um bom profissional percorre um longo caminho até atingir a plenitude de conhecimento e proficiência.

Com o pessoal de aviação o caminho não é diferente: é longo, dispendioso, precisa de oportunidades. Um comandante da aviação comercial, em qualquer país, começa a voar em aviões menores, aprende fundamentos da atividade aérea para então ir acumulando experiência, se aprimorando e crescendo na carreira.

OK, sabemos disso. E o que estamos vivendo hoje no segmento inicial da carreira de um piloto?

Estamos comprometendo o futuro da disponibilidade de mão de obra para a aviação brasileira. As condições atuais de infraestrutura, o uso que dela estamos fazendo, aliado ao custo nada razoável dos insumos, combustível incluso, está deixando a aviação geral no chão. Sem mercado inicial da atividade aérea, as escolas que deveriam formar pilotos não estão conseguindo viabilizar sua sobrevivência. Em função disso, não estamos formando pilotos em número suficiente para suprir a demanda futura.

Alegar açodadamente que hoje a oferta de pessoal de aviação é maior do que a demanda, portanto há desemprego no setor, é desconhecer o assunto. Primeiro porque a oferta maior é em alguns segmentos, e pontual. Segundo porque um piloto profissional demora vários anos para atingir um nível de proficiência e segurança operacional exigidos para a atividade.

O mercado de aviação no Brasil está reprimido. Há espaço para crescimento, desde que as condições estejam minimamente favoráveis. Historicamente a indústria da aviação cresce o dobro do crescimento do PIB. Por mais modesto seja esse crescimento, haverá incremento da atividade. Apenas a expansão vegetativa das empresas de grande porte deverá demandar número considerável de pilotos nos próximos anos. Somado a aposentadorias inevitáveis, ao segmento de táxi aéreo (135), à aviação executiva (também reprimida) e à aviação geral hoje ainda estagnada, a conclusão a que chegamos é apenas uma: não estamos formando mão de obra na aviação para os próximos anos. O eventual pretenso excedente de hoje se esgota rapidamente num ambiente estável. E o mercado internacional está ávido por pilotos prontos, a demanda continua aquecida no Oriente Médio e na Ásia.

Esse mercado aquecido, principalmente na Ásia, nos tira qualquer possibilidade de reimportação de nossa mão de obra exportada. Os salários daquela região são mais do que o dobro dos salários praticados por aqui. Não temos condições de competir nesses níveis com o mercado internacional de pilotos. Somos exportadores de bons profissionais que nos farão falta num futuro não muito distante.

Nossa produção está escassa e nossos celeiros estarão vazios quando precisarmos.

A atual forma com que nosso país trabalha com a aviação geral e com a formação de pilotos na base da pirâmide está comprometendo a capacidade de produção de mão de obra para o futuro da aviação brasileira. Temos esse direito?

Miguel Ângelo Rodeguero é aviador, bacharel em ciências aeronáuticas, advogado e MBA. Atualmente é instrutor de B-737NG, Conselheiro e Diretor de Segurança Operacional da AOPA Brasil .




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