A comunidade aeronáutica brasileira escutou o áudio de um evento envolvendo aeronaves da aviação comercial, em ponto de espera para decolagem em Recife-PE, enquanto uma aeronave do Aeroclube de Pernambuco realizava procedimento de treinamento ILS.

O que se viu foi a dupla formada por instrutor e aluno atuando como profissionais e dois pilotos, da aviação comercial, com postura totalmente inaceitável, antiprofissional e arrogante, incompatível com os padrões esperados para aviadores.

A primeira obviedade do diálogo é bem simples de ser identificada: o piloto reclamão da aviação comercial, no ponto de espera, demonstra impaciência e prepotência, combinação que se estiver instalada na forma como atua no seu dia-a-dia, deveria por si só ser motivo de preocupação por parte do seu empregador. A aviação cobra um preço alto, na segurança, quando é conduzida por pilotos com esse tipo de comportamento. Falando assim em público, na fonia, pode-se imaginar o tipo de diálogo que esse profissional está habituado a ter com seus colegas de cabine, comissários de voo e mecânicos. 

A segunda obviedade é que, na ausência de profissionalismo por parte de quem mais se esperava educação, paciência e compreensão (o "comandante" da aeronave comercial), a atitude elegante e respeitosa foi demonstrada pelo instrutor e seu aluno, que claramente optaram por deixar o irritado e arrogante "comandante" falando sozinho, com pista livre para decolar sem ser "importunado". Parabéns ao Aeroclube de Pernambuco e ao piloto em comando da sua aeronave em instrução.

Mas o evento demonstrou algo mais grave: a falta de cuidado por parte das autoridades aeronáuticas, que admitem que administradores aeroportuários emitam NOTAMs praticamente proibindo o uso de aeródromos PÚBLICOS para treinamentos IFR e ILS. 

A AOPA Brasil tem certeza absoluta que nenhum administrador aeroportuário brasileiro tem autoridade para decidir sobre a oferta de infraestrutura aeroportuária e de instrumentos de navegação aérea para fins de instrução aeronáutica.

É claro que a coordenação, em certos aeródromos altamente congestionados, de aeronaves de menor performance com outras, de maior performance, em horários de pico, precisa ser administrada. Não se espera, por exemplo, que seja possível a realização de treinamentos ILS em SBGR, a qualquer hora do dia. 

Porém, à exceção de situações extremas de gargalos evidentes, a infraestrutura de navegação áerea brasileira foi criada e é mantida com dinheiro do pagador de impostos e não deveria estar sujeita nem a chiliques de "comandantes" da aviação comercial, nem a escolhas de administradores aeroportuários.

Não se nasce aviador, assim como não é possível manter a proficiência IFR sem que se tenha a oportunidade de praticar procedimentos IFR. 

O fato é que, no Brasil, a oferta de procedimentos IFR de precisão encontra-se em aeroportos de maior porte, nas terminais onde também está a oferta de instrução para os futuros aviadores brasileiros. 

Logo, se espera que as autoridades, especificamente a ANAC e do DECEA, garantam que hajam oportunidades razoáveis para que Aeroblubes e Escolas de Voo possam treinar novos aviadores de forma adequada, como determinam os regulamentos internacionais e nacionais.

NOTAMs emitidos em todo o Brasil, que criam restrições exageradas ou ilógicas para treinamento IFR deveriam ser cancelados pelas autoridades aeronáuticas, imediatamente. Com certeza, um pequeno grupo de trabalho envolvendo as Autoridades Aeronáuticas, Aeroclubes, Associações e Companhias Aéreas, chegaria facilmente a um consenso sobre como garantir que aviadores em formação possam praticar procedimentos onde eles existam, minimizando impactos no fluxo de tráfego aéreo, em todo o território nacional.